25/02/2017

fevereiro 25, 2017
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O Brasil vive dívidas para todos os lados, os municípios devem salários aos seus servidores, a violência nas ruas pulula feito pipoca em dia de cinema, hospitais sem receber verba recusam pacientes, inclusive vítimas de câncer; porém, esses mesmos municípios estão a gastar fortunas com músicos e estruturas para a farra do Carnaval.

Contudo, não só a (des)administração pública se faz de “João sem braço” neste momento delicado do país, o povo também só fala em Carnaval. O povo que deve na praça, mas encontra um jeito de comprar fantasias, viajar, ir para as ruas e se tornar folião.

O Carnaval aqui não é o ponto único, ele nos serve como exemplo do que são as prioridades de um povo e seus governantes.

Em países de condutas mais sérias e preocupadas com o bem público, tanto por parte de políticos quanto de seu povo, sobretudo nos de primeiro mundo, quando se tem uma crise, o estado, os municípios e o povo evitam gastar em festas, pois sabem que precisam economizar, sabem que precisam cuidar de coisas mais importantes naquele momento; diferente do que ocorre no Brasil, que não tem um comportamento comprometido com o bem comum, também tanto por parte de políticos quanto de seu povo.

No Brasil nada justifica cancelar uma festa. A diversão é mais importante do que qualquer outra coisa; o que é, por conseguinte, muito bom para os políticos corruptos eleitos por esse mesmo povo, pois na farra todos são ricos, e se são ricos os problemas não existem.

Enquanto os povos de países europeus, e ricos, têm, alguns com plebiscito popular, se recusado a sediar olimpíadas, de verão e de inverno, Copa do mundo de Futebol, assim como festas excêntricas de réveillon, para evitar gastos arbitrários em momentos de crise, o brasileiro, pobre econômica, ética e moralmente, vende fogão e outros utensílios de casa, endivida-se no cartão de crédito, pega emprestado e vai às ruas com seus bloquinhos de carnaval comemorar o que não há para comemorar (e ainda há desses blocos reclamando porque não têm ajuda financeira, no momento em que os municípios não têm dinheiro para pagar sequer seus funcionários). “Por que será que somos pobres?”, pergunta o bêbado de ressaca no amanhecer da quarta-feira de cinzas, quando estas voltam a ser percebidas no ar.

No final das contas, uma coisa sai do vislumbre e se torna mais evidente: um dos maiores motivos do sofrimento do povo brasileiro é o povo brasileiro que prioriza a gandaia e a irresponsabilidade (bem como o descumprimento de leis básicas para a convivência comum; mas isso já é assunto para outro texto).

Se o povo tivesse pela honestidade, sociedade e senso comum de nação e respeito o mesmo afinco que tem pelo futebol e pelas farras, o Brasil seria um grande país.

A desculpa para tanta sede por baderna é que todos precisam de uma válvula de escape, precisam desopilar. Sim, precisam, mas se falta dinheiro para o básico, de onde vem o dinheiro para a esbórnia? 

Não estou pregando a proibição da diversão, contudo, nem toda hora é hora. Falta seriedade, senso de responsabilidade, tanto das autoridades quanto do povo que mais se importa com farra do que com saúde e educação.

Porém, o que dizer de um povo que tem o malandro como herói, com sambas em sua homenagem como se o malandro fosse um exemplo de conduta e qualidade de vida. Esquece-se, esse povo, que para um malandro se dar bem alguém tem que se dar mal em suas mãos.

Mas a escusa é que esse malandro é o cara esperto, o gente fina, boa praça, amigo de todos, uma figurinha carismática, engraçado nas suas mentiras, no jeito esperto de ser, nos seus pequenos trambiques. No entanto, isso faz dele, na verdade, não um herói simpático, mas um pilantra simpático.

Enfim, é preciso entender que nem toda miséria é econômica, a pior miséria é da inteligência que muito regularmente descamba para a miséria social e humana.



Imagem: François Fratellini Gensi.

6 comentários :

  1. Fiz um quadro, há anos, em que o palhaço tira a máscara em que chora, e se revela, atrás, a caveira que ri. Rimando: c´est la vie.
    Excelente reflexão, Lial. W. J. Solha

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    1. Acredito que não conheço esse quadro, infelizmente. Se puder me enviar uma foto dele por e-mail ou pelo Facebook, agradeço. Gostaria de conhecer.

      Obrigado pelo comentário, Solha!

      Abraço!

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  2. Grato, caro Lial, pela oportunidade do seu texto. Abraços.

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    1. Obrigado a você, Pedro, pela leitura e retorno.

      Abraço!

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  3. Muito bom , concordo com tudo, e admiro -o por sua coragem de expor sua opinião sem se importar com a patrulha ideológica dos esquerdimhas "politicamente corretos". Enquanto o povo se esbalda em sua própria catarse, alguém pensa, e sofre por este país tão rico e ao mesmo tempo tão pobre. A "cultura " da malandragem é hoje a "cultura" da bandidagem. Abraço cordial, colega.

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    1. Obrigado, Cristina, pela leitura e pelas palavras! O dever, digamos assim, de um intelectual e de todos que trabalham com a palavra, seja literária, filosófica, sociológica, enfim, do pensamento humano, é analisar e expor suas convicções e observações sem preocupação com escolas de pensamento ou com o agrado da massa ou mesmo das minorias; a independência e a fidelidade a si próprio, à sociedade em que viver e à ética do que disserta deve estar em primeiro lugar, bem como buscar por em discussão novas formas de pensar e de autoanálise por parte do leitor. Sei que muitos, antes mesmo de pararem para pensar no que eu ou outro diz, vão esbravejar em agressões, mas isso não deve nos desviar de buscar o melhor.
      Um abraço agradecido!

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