15/01/2014

janeiro 15, 2014
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Há frases, expressões que se transformam em chavões, repetidos pelo povo, e que fazem a minha alegria. Eu estava hoje na cozinha da casa dos meus pais, enquanto minha mãe ouvia rádio, quando uma música do Naldo (acredito ser esse o nome do cantador), com a Arroz de Festa, Ivete Sangalo, começou a tocar. Antes que a música chegasse ao primeiro minuto, minha mãe elogiou, “Ô musica feia!”. Um minuto depois, “Que música horrível, Ave Maria!”. Mais trinta segundos e: “Ô música penosa!”. E esta é uma das expressões que fazem a minha alegria.

“Penosa” é um adjetivo erudito muito usado por ela, minha mãe, quando quer se referir a algo tão ruim que dá tristeza, ou raiva — uma penúria dos infernos! Seria como dizer “Essa música é ruim que dói!”.

Mas minha mãe tem ainda outros petardos: “O que é nove que dez não ganha?!”, para o absurdo do contra-senso — a coisa é tão ruim que não se entende como alguém tem a audácia de cantar assim; “Que gemedeira é essa?!”, para os cantantes de voz esquisita e desafinados; e talvez a mais famosa das expressões nordestinas: “Quediabeísso?!”[Que diabo é isso?!], que serve para tudo que incomoda, que se considera ridículo e berrante.

Enfim, não vou aqui relatar todo o rosário de expressões da minha mãe, seu repertório de elogio crítico-musical é extenso e, para alguns deles, de multiúso como é o caso do último. Com um “Quediabeísso?!” você pode descrever sua sensação diante de diversas situações e “ridiculices” vistas; você pode julgar a roupa de alguém, seu cabelo, sua voz, sua forma de andar, um filme, uma peça teatral pós-moderna-construtivista-experimental-concreta, pode usar para definir um jogo da seleção brasileira, uma instalação artística, a cueca ou a calçola do companheiro ou companheira. É como o play em inglês que serve tanto para jogar bola como para fazer sexo. Experimente, nunca é tarde para aprender.

Ah, minha mãe e a sabedoria popular, quão erudita é a voz de quem viveu.

2 comentários :

  1. Essas expressões são realmente geniais. Lembro-me de um matuto me dizendo no alto sertão paraibano que o rio se enchera no seu caminho. "A água batia no casamento". O pedreiro, quando fui fazer o muro de minha casa, me levou a outra, com trabalho que ele fizera. "Veja as pedras. Acho ,que seu muro ficaria uma beleza com tarugos desta expressão". E por aí vai.

    W. J. Solha

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  2. É verdade, Solha, expressões não faltam. É o povo que, sem a erudição acadêmica, dá o seu jeito de se comunicar, e assim cria a sua própria erudição comunitária.

    Abraço!

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